Como transferir sua mente para um computador e tornar esse processo o mais fácil possível?

Tecnicamente e cientificamente, veja se é possível ou não "transferir" sua mente para um computador nos dias de hoje.
11/12/2023 às 11:59 | Atualizado há 5 meses
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Será verdadeiramente impressionante conseguir transferir a mente para um computador, de forma a compreender todos os nossos mecanismos mais profundos. Já ouviu falar do conceito de “upload da mente”?

A ideia de “upload da mente” teoriza que, um dia, poderemos ser capazes de transferir uma pessoa do seu corpo biológico para uma estrutura sintética. Este conceito, que pode parecer caótico, tem origem no movimento intelectual chamado transhumanismo e conta com defensores importantes, como o cientista da computação Ray Kurzweil, o filósofo Nick Bostrom e o neurocientista Randal Koene.

O objetivo final dos transhumanistas é transcender a condição humana através do progresso científico e tecnológico. Na sua perspectiva, o upload da mente pode permitir viver o tempo que se quiser (mas não necessariamente para sempre).

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Cérebro

Eventualmente, poderá até permitir melhorar cada pessoa, através de cérebros simulados que funcionem mais rapidamente e eficientemente do que os cérebros biológicos “originais”.

Será que isso é sequer possível?

De acordo com Clas Weber, um investigador sénior da University of Western Australia, a viabilidade do upload da mente baseia-se em três pressupostos fundamentais.

 

1. Pressuposto tecnológico

Este pressuposto baseia-se na ideia de que seremos capazes de desenvolver a tecnologia de upload da mente nas próximas décadas.

Tentar simular o cérebro humano seria um desafio monumental. O nosso cérebro é a estrutura mais complexa do universo conhecido, composto por cerca de 86 mil milhões de neurónios e 85 mil milhões de células não-neuronais, com um número estimado de um bilião de ligações neurais.

Cérebro

Atualmente, os neurocientistas estão a desenvolver diagramas 3D de conexões cerebrais (chamados “conectomas”) em cérebros de organismos simples. O maior conectoma que temos até agora é o de uma larva de mosca da fruta, com cerca de 3000 neurónios e 500.000 ligações neurais. É esperado que, nos próximos dez anos, seja possível mapear o cérebro de um rato.

No entanto, o cérebro humano é cerca de 1000 vezes mais complexo do que o cérebro de um rato. Será que levaríamos 10.000 anos para mapear um cérebro humano? Provavelmente não. Temos testemunhado ganhos de eficiência incríveis em projetos semelhantes, como o Projeto Genoma Humano.

Há cerca de 20 anos, foram necessários anos e centenas de milhões de dólares para mapear o primeiro genoma humano. Atualmente, os laboratórios mais rápidos conseguem fazê-lo em poucas horas por cerca de 100 dólares. Com ganhos semelhantes em eficiência, é possível que a tecnologia de upload da mente surja durante a vida dos nossos filhos ou netos.

Na perspetiva de Weber, criar um mapa cerebral estático é apenas uma parte do trabalho. Para simular um cérebro funcional, seria necessário observar neurónios individuais em ação. Não é claro se poderíamos fazer isso num futuro próximo.

 

2. Pressuposto da mente artificial

Este pressuposto baseia-se na ideia de que um cérebro simulado originaria uma mente real.

Uma simulação do cérebro originaria uma mente consciente semelhante à de cada um? A resposta depende da conexão entre a nossa mente e o nosso corpo. A maioria dos filósofos académicos de hoje acredita que a mente é, em última análise, algo físico, ou seja, a nossa mente é o nosso cérebro.

No entanto, Weber questiona “como é que um cérebro simulado pode originar uma mente real se é apenas uma simulação”.

llustration credit: Jerry Tang/Martha Morales/The University of Texas at Austin.

Como explicou, os cientistas cognitivos acreditam que é a complexa estrutura neural do cérebro que é responsável pela criação da mente consciente, e não a natureza da sua substância biológica.

Quando implementado num computador, o cérebro simulado reproduziria a estrutura do cérebro. Para cada neurónio e ligação neuronal simulada, haveria um componente de hardware correspondente. A simulação reproduziria a estrutura do seu cérebro e, consequentemente, uma mente consciente.

Os sistemas atuais de inteligência artificial fornecem provas úteis (embora inconclusivas) da abordagem estrutural da mente.

Esses sistemas funcionam com redes neuronais artificiais, que imitam alguns dos princípios estruturais do cérebro. Além disso, são capazes de realizar muitas tarefas que exigem um grande esforço cognitivo humano.

 

3. Pressuposto da sobrevivência

Este pressuposto baseia-se na ideia de que a pessoa criada no processo é realmente “você”. Só então é que o upload da mente se torna uma forma de continuar a viver.

Vamos supor que é possível simular um cérebro humano e que a simulação cria uma mente consciente. A pessoa carregada seria realmente você, ou talvez apenas uma cópia mental?

Weber explica que esta questão remete para um velho enigma filosófico: o que nos faz continuar a ser a mesma pessoa quando nos levantamos da cama de manhã, após termos ido para a cama na noite anterior?

Os filósofos dividem-se em dois campos em relação a esta questão. O campo biológico acredita que o “você” de manhã e o “você” da noite são a mesma pessoa porque são o mesmo organismo biológico – ligados por um processo de vida biológica.

O campo mental, com maior influência, acredita que a mente é o que faz a diferença. O “você” de manhã e o “você” de tarde são a mesma pessoa porque partilham uma vida mental. A pessoa de manhã tem memórias do que a pessoa de tarde fez, partilham as mesmas crenças, esperanças, traços de personalidade, entre outros.

Representação do cérebro sob influência de drogas psicadélicas

Desta forma, qual será o campo correto? O investigador sugere que nos imaginemos com o nosso cérebro transplantado para o crânio vazio do corpo de outra pessoa. A pessoa resultante desse processo, com as nossas memórias, preferências e personalidade, seríamos nós.

Ganharíamos um novo corpo ou eles ganhariam uma nova mente? Isso depende de muitos fatores.

Se o campo biológico estiver correto, o upload da mente não funcionaria, assumindo que o objetivo do upload é deixar a biologia para trás. Se o campo mental estiver correto, haveria a possibilidade de fazer o upload, uma vez que a mente carregada poderia ser uma continuação genuína da vida mental atual.

O que acontece quando o você biológico original também sobrevive ao processo de transferência? Será que você, juntamente com sua consciência, se dividiria em duas pessoas, resultando em dois “vocês” – um na forma biológica (B) e outro na forma carregada (C)?

Não, você (A) não pode literalmente se dividir em duas pessoas separadas (B ≠ C) e ser idêntico a ambas ao mesmo tempo. No máximo, apenas uma delas poderia ser você (ou A = B ou A = C).

Parece mais intuitivo que, após a separação, o corpo biológico ainda seria o verdadeiro eu (A = B), e o upload seria apenas uma cópia mental. Mas isso coloca em dúvida a sobrevivência como upload, mesmo no caso em que o corpo biológico é destruído.

Foi teorizado por Weber, no Science Alert, ressalvando que os pressupostos da mente artificial e da sobrevivência não podem ser testados empírica e conclusivamente, pois teríamos que fazer o nosso próprio upload.

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