O mercado de imóveis de médio padrão tem demonstrado uma notável capacidade de resistência ao longo de 2025. Mesmo com as altas taxas de juros e restrições de crédito, esse segmento, que atrai famílias com renda mensal entre R$ 12 mil e R$ 20 mil, continua relevante no mercado imobiliário. As novas políticas habitacionais do governo federal visam atenuar esses desafios, mas não devem eliminar completamente as dificuldades enfrentadas pelo setor.
Quais são os principais pontos da nova política habitacional?
O governo federal anunciou recentemente ajustes importantes no setor habitacional. Essas mudanças incluem o melhor direcionamento dos recursos da poupança e a expansão do teto dos financiamentos no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que passou de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões. Além disso, a Caixa Econômica Federal retomou o financiamento de até 80% do valor do imóvel. Essa medida pode facilitar o acesso ao crédito para uma parcela maior da classe média.
Luiz França, presidente da Abrainc, acredita que a melhora gradual da economia e a nova política de crédito serão importantes para o médio padrão. Ele ressalta a importância de um modelo que garanta estabilidade e juros acessíveis para o desenvolvimento do setor.
Qual o impacto da taxa de juros nos financiamentos?
A fixação do teto de juros do financiamento em 12% é um ponto crucial. Atualmente, as taxas estão em torno de 13%, em média. Segundo França, cada ponto percentual reduzido nos juros pode incluir mais 160 mil famílias no mercado imobiliário, o que pode aumentar a demanda. No entanto, especialistas alertam que o alto custo do crédito ainda pode limitar o impacto dessas medidas.
A expectativa do mercado é que a Selic, taxa de juros de referência do país, caia para 12,25% até 2026. Apesar dessa projeção, esse patamar ainda é considerado elevado e pode continuar a afetar o setor imobiliário.
Como a dependência de financiamento afeta a classe média?
Pedro Arsenian, gerente de Real Estate na SOLD Leilões, destaca que a dependência de financiamento é um fator que diferencia a classe média das faixas de renda mais alta. Enquanto o público de alta renda geralmente compra imóveis à vista ou com entradas substanciais, a classe média alta depende fortemente do crédito imobiliário.
Mesmo um imóvel de R$ 800 mil a R$ 1,2 milhão exige financiamentos longos, e as parcelas são sensíveis às variações da Selic. Por isso, novas linhas de crédito são vistas como uma medida positiva para o setor.
Quais os desafios que o segmento de média renda ainda enfrenta?
Ygor Altero, head do setor imobiliário do Research da XP, avalia que o segmento de média renda continuará a enfrentar desafios. A taxa de juros do financiamento imobiliário permanece alta, e a disponibilidade de funding ainda não é suficiente. Para ele, a iniciativa do governo é positiva, mas seu impacto deve ser mais de preservação de recursos do que de transformação.
É importante notar que a Eztec registra alta de 6,2% nas vendas líquidas no 3º trimestre de 2025, o que pode indicar uma recuperação gradual do setor.
Como o desempenho de vendas de imóveis de médio padrão se comparam a outros?
Dados da Pesquisa do Mercado Imobiliário do Secovi-SP mostram que as vendas de imóveis de classe média em São Paulo continuaram, mas com um desempenho inferior ao de outras faixas. Em agosto de 2024, as vendas sobre a oferta (VSO) para imóveis de R$ 700 mil a R$ 1,4 milhão eram de 9,4%, e para imóveis de R$ 1,4 milhão a R$ 2,1 milhões, de 6%.
Em agosto de 2025, o VSO dessas faixas caiu para 7,4% e 4,9%, respectivamente. Em comparação, a faixa de imóveis de até R$ 264 mil apresentou um VSO de 14,2%, a faixa de R$ 264 mil a R$ 350 mil, 10,5%, a faixa de R$ 350 mil a R$ 700 mil, 10,9%, e a faixa de imóveis acima de R$ 2,1 milhões, 8,2%.
Qual a situação do mercado de alto padrão?
Enquanto o mercado de imóveis de médio padrão enfrenta restrições, o segmento de alto padrão e luxo segue aquecido, impulsionado por compradores que dependem menos de financiamentos. Claudio Carvalho, CEO da incorporadora de luxo AW Realty, compartilhou essa avaliação, destacando que o mercado de luxo tem um funcionamento particular e não depende tanto de financiamento.
A AW Realty, que lançou R$ 1 bilhão em Valor Geral de Vendas em 2025, pretende aumentar esse indicador em 15% no próximo ano. Projetos exclusivos e bem localizados continuam a ser vendidos, mesmo com juros altos, pois os compradores muitas vezes pagam à vista e decidem com base em desejo e localização, e não em cálculos financeiros.
Via InfoMoney






